Apresentada como tese de doutoramento da autora, a presente reescritura de Hamlet possui na verdade dois heróis. E seu segundo protagonista não pertence ao gênero humano, embora deva a este a sua existência. Trata-se da própria literatura: a arte da escrita, da composição, da invenção, tão estranha e misteriosa, tão sujeita a elucubrações quanto os pensamentos do príncipe Hamlet. A literatura não é um conjunto de obras singulares, mas o sistema de relações entre elas. Imersos neste sistema, como no oceano que envolve Solaris e que dá corpo e movimento às lembranças daqueles que vivem em sua órbita, é que os livros escrevem a si mesmos, nascem e circulam no tempo, ora transparentes e silenciosos, ora espessos, vibrantes, ora ambas as coisas de uma só vez, já que cada leitor, também escritor, lhe dará a forma particular do seu espírito e do seu desejo. Ao seguir os passos de Hamlet, Marici Passini nos faz seguir também os passos da Literatura. Mergulhamos com o príncipe nesse mundo imenso, infinito, que embora tenha o tamanho do universo, não é formado por outra coisa senão por palavras, palavras e palavras.