Existem muitas possibilidades de aproximação do texto de Heidegger. Existem aproximações apologéticas, inflamadas, crípticas, assim como coerentes, rigorosas e reconstrutivas. O que determina, porém, a qualidade de uma interpretação de um autor hoje clássico como ele é justamente a capacidade que ela tem de funcionar como um caminho de discussão de questões que ou bem não se encontravam diretamente em jogo no horizonte de realização dos seus textos, ou bem se encontravam imersas em um horizonte de sentido que as tornava por demais particulares aos interesses argumentativos do seu autor. Uma interpretação é tanto mais rica, em outras palavras, quanto mais ela for capaz de descobrir novos caminhos de tematização de uma obra, se articulando com a recepção histórica efetiva dessa obra e com as possibilidades novas que sempre emergem daí. Exatamente isso, porém, caracteriza em muito as leituras de Jeff Malpas e Steven Crowell. Devotados a problemas ligados ao campo da ética e da filosofia hermenêutico-fenomenológica, o leitor vai se deparando incessante- mente com a oportunidade de, por vezes, seguir uma análise fina de contextos heideggerianos, e, por outras vezes, acompanhar uma consideração de problemas com bases heideggerianas, sem uma direta menção a Heidegger. Com isso, o pensamento oscila aqui entre o trabalho de tematização e de exposição livre, entre o foco temático e a exegese autoral. Essa mistura dá vida aos textos que vamos lendo, sem que em momento algum se prescinda do rigor. O que temos aqui, portanto, é uma oportunidade ímpar de superar a tensão por vezes estéril entre erudição e pensamento, entre o domínio amplo de um autor e a livre dinâmica do pensar.