Às vésperas do Natal de 1921, o desconhecido Ernest Hemingway desembarcou em Paris com a intenção – e uma enorme ambição – de se tornar escritor. Tinha 22 anos, não havia publicado nada nem escrito qualquer texto que impressionasse. Então foi parar não apenas na capital francesa, mas, sobretudo, no coração do florescente modernismo europeu, quando Paris atraía uma gama internacional de artistas que conviviam num regime de influência mútua. Naquela espécie de ilha mágica das artes, aquele jovem sem grande conhecimento de literatura integrou-se com rapidez. Acumulou referências. Estudou-as com afinco. Evoluiu de maneira espantosa. Tornou-se, ele próprio, uma referência, cunhando um estilo revolucionário de escrever prosa. Este livro revisita essa história, tomando como base a correspondência de Hemingway. De certa forma, trata-se de um recorte biográfico de um lugar e de um escritor. Mostra Paris consolidando-se como referência artística do Ocidente. Mostra a figura humana que se desentranha das cartas de Hemingway. E como ele aprendeu o que, embora possa ser estimulado, não pode ser ensinado. Tornou-se escritor.
“Ernest Hemingway teve uma existência feérica, impulsiva, aventureira. Quis experimentar tudo que a vida tinha a oferecer. E o que a vida lhe oferecia na década de 1920 era nada mais nada menos que a Paris do modernismo, onde ele pode conviver com os grandes nomes de seu tempo em diversos campos artísticos. Lembremos que todo escritor necessita de sensibilidade, leitura e muita vivência. No fundo, a obra sempre acaba por refletir experiências existenciais, culturais, humanas. Por isso não se ensina a escrever, mas se aprende. E Ernest Hemingway aprendeu naquela Paris para a qual somos transportados durante a leitura deste surpreendente e impecável livro do escritor e acadêmico Luís Roberto Amabile. Somos arrebatados pelo estilo fluente que alia o saber narrativo ao rigor analítico. É como se lêssemos um [bom] romance. Causa-nos surpresa também o Hemingway com quem nos deparamos, um jovem cheio de curiosidade intelectual e empolgado pela vida, que passa longe dos estereótipos de ostentação da virilidade associados à sua figura de autor famoso. É um livro muito útil para escritores e aspirantes a escritores, mas também para quem deseja conhecer o lado humano de um ícone da literatura. Na verdade, os dois temas se enlaçam. A criação artística é das mais intensas e exclusivas experiências humanas. E ainda não foi plenamente explicada. Quando se trata de literatura, há perguntas que continuam a ressoar: Como se forma um escritor? Como são criadas as obras? Mesmo que seja impossível chegar a um consenso, podemos observar constâncias e aprender com a experiência acumulada. Assim sendo, essa formidável narrativa do processo de formação de Hemingway indica, uma vez mais, que o melhor é escrever sobre o que conhecemos, a partir de nossas vivências humanas e de nossas infatigáveis leituras. E é exatamente o que Luís Roberto Amabile fez.”
- Luiz Antonio de Assis Brasil