Ao escrever uma obra factual, o escritor procura mostrar o momento em que vive, e a realidade que o cerca, usando seu próprio convencimento, através da realidade que vislumbra, sem querer com isso impor uma ideologia ou ser tendencioso. Portanto, ao escrever este livro, não foi intenção deste autor querer responsabilizar instituições, o Governo ou os poderosos que dirigem ou governam a Nação, mas buscar nos personagens o sentimento próprio de cada um, influenciados, como já insinuamos, pelo ambiente em que vivem, e que os transforma. A obra, sem dúvida, isso será exaltado em seu conteúdo, apresenta fortes apelos sociais, a crítica que se faz é pelo o que ocorre com as pessoas das periferias, notadamente as pessoas mais pobres e negras. Mostra um cenário catastrófico que ainda nos dias de hoje perdura, e tal ambiente evidentemente influencia diretamente na formação do elemento, sem, contudo, pensar em tirar responsabilidades individuais. Cada indivíduo vive a sua escolha. Este romance trata-se de uma história comum que tem como cenário primordial as periferias das grandes cidades, com todas as suas especificidades. A pobreza, o abandono e a desconsideração dos dominantes. Não existe dúvida de que o momento atual perdura de uma herança antiga e que se agrava no dia a dia. Chegamos a um novo século, e nos deparamos com os mesmos antigos problemas, fome, miséria, discriminação, mortalidade infantil causada por velhas doenças que reaparecem e se atualizam, problemas de habitação, falta de educação, saneamento, e o crônico desemprego, que acaba conduzindo o indivíduo à violência e à marginalização até à criminalidade. Não é intuito levantar críticas a determinadas pessoas ou às nossas instituições, mas questionar o modelo que, no seu conteúdo carregado de uma formação egoísta e individualista, acaba conduzindo o cidadão livre e participativo a uma prisão domiciliar, escondendo-se atrás de muros e grades, buscando assim se proteger criando uma barreira, dando as costas aos fatos que de certa forma contribuem para que ele continue a existir. Se não houvesse omissão, certamente todos poderiam viver dignamente.