Intrigante e surpreendente leitura do personagem no romance é essa oferecida pelo crítico e poeta italiano Enrico Testa, por meio de uma ampla incursão em alguns textos literários que marcaram o século XX. Não se trata de mais uma definição teórica da categoria do personagem, mas sim de uma atenta experiência de leitura e reflexão que é compartilhada com o leitor. Com inteligência e argúcia, de forma criteriosa e com uma precisão única, Testa apresenta nos curtos e intensos capítulos desse volume uma hipótese interpretativa inovadora ao identificar duas tipologias: a primeira caracterizada pelo personagem absoluto, aquele que não sofre evolução ou mudança ao longo do romance, vivendo imerso em sua subjetividade e podendo ser autor de grandes monólogos — são eles os heróis, providos de uma exagerada subjetividade; a segunda que tem como referência o personagem relativo, cujo perfil é dado pelas circunstâncias e vivências, enfim, pelo contexto relacional. Nesse último caso, a forma dialógica, como espaço de troca entre as esferas dentro-fora e singular-plural, é preponderante. São eles os figurantes, que não abrem mão de uma identidade, mas expandem e dissolvem o espaço da subjetividade, colocando-a diante de uma radical exposição ao outro. (...)