Na clínica psicanalítica somos confrontados com pacientes cuja queixa incide especialmente sobre o corpo, o que torna fundamental retomar o estudo da temática da hipocondria. Na sociedade contemporânea, tem-se um intenso olhar e escuta sobre o corpo, o estado de saúde e de adoecimento, sobre a imagem de si. Os sujeitos operam hipervigilância constante sobre o estado do corpo e muitas vezes ficam capturados nessa lógica, o que lhes causa muito sofrimento. Sua queixa é de que, apesar de seus esforços, seu corpo falha, nunca está de acordo ou responde a contento àquilo que almejam. A relação que mantém com o corpo por vezes assume um caráter persecutório, de angústia de morte e desespero. Com base nos desafios que surgem na clínica contemporânea, a partir da queixa corporal desses pacientes é que surge a proposta deste livro. Embora seu foco esteja voltado para o estudo da complexidade da problemática da hipocondria, ainda assim pode lançar luz sobre diversas situações que permeiam a clínica contemporânea. Ao longo do livro, o leitor encontrará um percurso e análise em detalhe das contribuições de Freud sobre a hipocondria, sua classificação como neurose atual e, com isso, sua característica peculiar de se manifestar em qualquer quadro clínico, aspecto que ilumina a concepção da presença de uma dimensão hipocondríaca nos processos constitutivos. Em sua vertente patológica, a relação eu-corpo é investigada para compreender a singularidade do caráter persecutório que o corpo assume nesses casos. A relação eu-corpo é pensada em sua articulação com a relação eu-outro. A partir disso, entrecruzam-se questões sobre a configuração do autoerotismo, questão narcísica, dimensão traumática, projeção, angústia de morte e tempo do desespero. Tais elementos serviram de fundamento para uma releitura da questão do “atual” na hipocondria.