A História Social da Cultura Escrita é um dos muitos tributários que desaguam no grande oceano da História Cultural. No caso concreto, trata-se de um campo da História que faz convergir dados sócio-históricos, demográficos, culturais e políticos, visando à busca e à compreensão dos processos de escolarização em perspectiva histórica e da normatização do português ensinado nas escolas públicas e particulares de Sergipe Del Rey oitocentista. Nesse sentido, o estudo da História de Sergipe, desde seu surgimento vinculado à Bahia, foi o ponto de partida para a construção de um panorama de sua configuração social. As políticas oficiais destinadas à implementação de um ensino de qualidade para a população, constantemente discutidas e debatidas nas Assembleias Provinciais, pouco ou quase nada trouxeram de positivo para atender aos mais carentes, mormente aos pardos e pretos, livres ou libertos, os quais representavam a esmagadora maioria da população sergipana. Contribuíram para o malogro da escolarização em Sergipe não apenas a pobreza de seus habitantes, mas também o pouco investimento provincial na estruturação das escolas, no provimento de aulas, de materiais escolares e acadêmicos, bem como na qualificação docente. Paralelamente a esse contexto, intelectuais brasileiros, ciosos da inserção do país no grupo das nações ditas “ilustradas” ou “civilizadas”, debruçaram-se sobre a produção de compêndios escolares – dicionários e gramáticas –, cujo intuito era o de inculcar nos jovens uma norma-padrão, muito afeiçoada à utilizada em Portugal. No livro que ora apresentamos, analisamos uma das gramáticas que foram sugeridas para o ensino da mocidade sergipana, a obra do médico gaúcho José Ortiz (1862) – Novo Systema de Estudar a Grammatica Portugueza. A escolha dessa obra para investigação deu-se pelo fato de ter sido uma sugestão do próprio Presidente da Província à época ao seu Diretor da Instrução Pública, o que demonstra a participação direta do poder central em questões de educação. Durante a análise, discutimos o método de ensino sugerido pelo seu autor, a distribuição dos temas na obra, e, principalmente, diversos aspectos linguísticos trazidos aos aprendizes como formas de “bem falar e escrever” a língua materna. Ademais, ressaltamos neste trabalho as incompatibilidades entre o que se buscava ensinar como norma-padrão e a realidade social e econômica da população, bem como a baixa qualificação docente em muitas das escolas sergipanas.