Histórias que o tempo me contou, o livro de Eduardo Mussi, reúne 27 histórias que nos transportam às lembranças de um homem maduro, preocupado com a família e os amigos, mas sem esquecer, no esmiuçar de suas memórias, que oscilam entre presente e passado, os temores com o futuro de um Brasil que podia ser uma nação próspera, de um povo mais feliz. Desgraçadamente, a violência social escorre como líquido inflamável de alta combustão, conforme revela a narrativa de “Pesadelo”, “Alucinação”, “Estou com medo” e “Conversa de padaria”. Há no livro, ainda, momento para reflexões pontuais, como se lê em “Corredor da morte”, “Um pouco de nostalgia”, “Minha vida”. Por trás desses relatos, mulheres, crianças, homens, a despeito do medo e da solidão, teimam em sonhar com os amores de uma vida que pode ser bela até o fim. Qual o sentido da vida? – pergunta Eduardo em um dos contos. A resposta é prática: – Temos de avançar corajosamente, porque a velhice não atrasa, salvo aos que morrem antes. Ao concluir a leitura das “Histórias” de Eduardo Mussi, ficou-me a sensação de ter acabado de bater longo papo com um amigo dileto, completamente apaixonado pela família que formou com sua amada Margarete, todavia para sempre engajado nas lutas por justiça social. A partir de uma perspectiva sombria, quanto humanista, Eduardo observa as inquietações de pessoas ao redor, suas dúvidas e desesperanças, perscrutando, nesse contexto, o mistério do que é viver a vida. Obra crepuscular e comovente, posso afirmar que o livro deixou em mim uma lição: viver pode até não fazer sentido, mas é no mundo que habitamos que vamos sentir a beleza da música, o prazer de jogar futebol às margens do rio Tapajós e se emocionar com o canto dos pássaros nas matas. Não atrasem a hora de ler. Jairo Carmo, escritor.