Homens comuns é o melhor livro do seu gênero — talvez mesmo o único. Ele descreve a transformação de um batalhão da polícia alemã, composto por homens da classe média burguesa. Eram, essencialmente, policiais comuns, educados antes da Juventude Hitlerista, e que, portanto, não haviam sido doutrinados quando jovens. Foram enviados à Polônia para “estabelecer a paz” — para arrumar a bagunça depois que os alemães a haviam invadido. Começaram prendendo todos os homens judeus entre 18 e 65 anos, reunindo-os em estádios e depois embarcando-os em trens. Mas este não foi o fim da história. Eles chegaram a um lugar muito, muito sombrio. Ora, no final do treinamento, esses homens iam mato adentro com mulheres grávidas nuas para dar-lhes um tiro na nuca. O mais horrível neste livro é que o autor detalha as etapas pelas quais isso ocorreu. O comandante da unidade dissera aos homens que eles teriam de fazer coisas terríveis, mas que poderiam voltar para casa se quisessem — portanto este não é um daqueles casos de pessoas apenas seguindo ordens. Há muitas razões para eles não terem ido embora, mas uma delas é que não seria “camarada”, por assim dizer, deixar os colegas fazerem todo o trabalho sujo enquanto eles davam o fora; seria covardia. E assim, as exigências para suas ações horríveis continuavam aumentando. A cada vez que aceitavam a exigência de fazer algo horrível, a probabilidade de aceitarem a próxima exigência aumentava. Um passo de cada vez. Esses homens estavam sofrendo terrivelmente; estavam fisicamente doentes, vomitando, e se despedaçando psicologicamente — mas não voltaram atrás. A questão é que acaba-se chegando a lugares muito ruins andando um passo de cada vez. Por isso, atenção a cada passo. Se você quer entender como se pode seguir um caminho terrível, é este o livro que você deve ler. São pessoas comuns que participam dessas coisas, e este é um pensamento muito, muito assustador.
— JORDAN PETERSON