Em passado muito distante, ao surgirem como espécie distinta neste nosso mundo, os “sapiens” interagiam socialmente, em hordas. Nessa fase da evolução da sua sociabilidade, foram descritos como “caçadores-coletores”. Coletores de frutos e de rizomas alimentícios, certamente, o foram. Mas “caçadores”? Como poderiam sê-lo, se haviam nascido desprovidos de um mínimo de equipamentos naturais (garras, dentes afiados, musculaturas muito possantes) que os tornassem temidos pelas outras espécies animais que com eles disputavam os recursos naquele mundo tão primitivo quanto hostil? Contudo, eram dotados de extrema agilidade, capazes de pular, correr e trepar em árvores ou em outros locais que lhes dessem bons abrigos. Por isso, sobreviveram! Mas sua inata capacidade de imaginar o improvável permitia-lhes criar ferramentas e armas, as quais os tornaram a mais bem-sucedida entre as espécies do gênero Homo: tornaram-se “caçadores”, deixando de ser “carniceiros oportunistas”, que aguardavam o fastio dos chacais para, então, se aproveitarem dos restos das carcaças inermes. Sua capacidade inventiva levou-os a dominar o fogo e, a partir deste, moldar o mundo à feição das suas necessidades físicas e psíquicas. Em breve, estariam deixando o seu território de origem para conquistar o mundo. E, agora, vemo-los deixar o orbe, para viajarem no espaço estelar! É sobre essa enorme pulsão, conduzindo-o a essa crescente plasticidade de ação, que pretendemos discutir neste livro.