Carpe diem (Aproveite o dia). Quem viu o filme Sociedade dos poetas mortos conhece a máxima utilizada pelo professor como motivação aos seus alunos para acordá-los para a Poesia. Após 2.000 anos de sua morte, Horácio, autor desta e de outras sentenças latinas, ainda educa o Ocidente com o seu legado de reflexão sobre o bem escrever e, quem sabe, sobre o bem viver. Navegar não é preciso - Horácio, poeta da festa, 28 Odes latim-português, livro organizado pelo professor aposentado da UNESP e latinista Dante Tringali, completa o trabalho de edição de e sobre Horácio que a Musa Editora iniciou com a publicação da Arte Poética de Horácio, tradução notas e comentários também do professor Tringali, a famosa Epístola aos Pisões a versar sobre os cânones clássicos da literatura, com ênfase na Poesia e no Teatro, os quais nem o arrojo libertário nas várias correntes do modernismo logrou dispensar no essencial.Navigare non necesse, vivere necesse (sentença nunca pronunciada por Horácio, mas cunhada em sua visão de mundo) contrapõe-se à frase emuladora de Pompeu aos marinheiros que transportavam trigo a Roma em tormentosa viagem marítima: Navigare necesse, vivere non necesse, “Navegar é preciso, viver não é preciso”, adotada por Caetano Veloso e erradamente atribuída a Fernando Pessoa que fora buscá-la na antiguidade romana.Se Horácio jamais cunhou a frase contrária, ele porém a refutou com a obra lírica em detrimento da exaltação épica ao poder dos imperadores e o exemplo de sua vida a fruir os tempos de paz propiciados por Augusto pós-Júlio César.Horácio, poeta da festa divide-se em duas partes: na primeira, encontram-se os artigos que justificam o Navegar não é preciso e compilam suas idéias, a mitologia e informações que custam ser achadas em compêndios vários (e raros). Ressalte-se nesta primeira parte “O código do vinho em Horácio e Ricardo Reis” (onde são coligidas e contrapostas as Regras do poeta latino e a sua reelaboração pelo vate português), verdadeiro manual de boas maneiras, também documento profano litúrgico do uso do vinho, suas marcas na antiguidade, as misturas possíveis e os pecados mortais das violações aos sagrados preceitos de Baco. Isto tira o livro das estantes literárias e o coloca nas mesas dos bons gourmets, dos amantes da festa.A segunda parte, 28 Odes latim-português, constitui uma antologia documental, selecionada para ilustrar a opção lírica de Horácio que “exalta a mulher marginal”, aquela que encarnava ora uma cortesã culta ora uma simples criada, todas mulheres celebradas, sem descuidar o canto amoroso homossexual, exemplificado na Ode 4, 10, expurgada das antologias escolares e nesta constante, onde o poeta se declara a Ligurino.