Uma lenta e tortuosa peregrinação aos confins da ancestralidade de si mesmo. Uma viagem rumo à medula extrema do ser, com escalas que se fazem não necessariamente em nenhum porto, mas em antigos e sombrios hotéis situados à beira da noite do esquecimento. Sempre em direção ao norte de suas origens, o narrador ambíguo dessa estranha travessia, um que transita à superfície do cotidiano, outro que emerge das profundezas, desfaz-se do nome, da nacionalidade, dos bens, dos impostos e contratos e, como o dinheiro que traz consigo, não tem pátria, mas apenas "o dom da leveza, da viagem, do nada que compra tudo". Ao longo das páginas deste romance insólito e perturbador, Per Johns é quase como Sísifo em busca de uma identidade que lhe escapa e se esfarinha nas escarpas de sua ascensão e queda. Numa época e numa sociedade que só privilegiam o acúmulo de quinquilharias e inutilidades tecnológicas, a personagem nuclear de 'Hotéis à Beira da Noite' se despe de tudo o que não seja ela mesma. E bem caberia a este romance único em nossa literatura aquele lema de Leonardo da Vinci: ostinato rigore. Rigor na escrita, na trama ficcional, nos diálogos e solilóquios, na concepção dualística e antagônica da personagem que nos conduz pelos labirintos da narrativa, na prosa exemplar que se move, fugidia, entre o poético e o filosófico.