A história de um amor apaixonado entre um jovem aspirante a escritor e uma cabeleireira do interior, contada da perspectiva do homem já maduro, que parece ter fracassado tanto no amor juvenil quanto em seu projeto de vida. Aos cinquenta anos, Ochoa se depara outra vez com o desafio: escrever Hotel Éden, o livro para sempre adiado e jamais realizado, e poder lidar com sua relação com Mônica, a cabeleireira de olhos verdes e lábios carnudos, sua amada que ficou louca e o enlouqueceu. Sobre o mítico hotel argentino, em Córdoba, pairam lendas políticas do período peronista, como a de ter sido refúgio de nazistas, mas também paira a história pessoal de Ochoa: sua foto com os pais lembrança de um período de vacas gordas, sua lua de mel com Mônica, e sua fixação pela imagem da jovem alemã da propaganda do hotel. Assim, em Hotel Éden, romance do escritor e psicanalista argentino Luis Gusmán, está presente a construção das rememorações desse homem em busca de algum sentido, não apenas para as vicissitudes de seu amor, mas também do ambiente no qual este se desenvolveu: a Argentina de Perón, com as perseguições dos militares, o medo, a música e o cheiro daquela época. O tom do romance fica entre o investigativo e o memorialístico, sem ceder a nenhum deles, entre o intrincado mistério do Hotel Éden e o inextricável amor por Mônica, o narrador nos expõe o que importa: as ruínas do vivido entre o casal e as ruínas do não-vivido a história secreta do hotel. Constrói-se em paralelo o relato do enlouquecimento de Mônica e Ochoa no qual, algozes e vítimas de suas idealizações e pulsões, vão se destruindo na impossibilidade da convivência. Nessa trama, a literatura irrompe como oásis desejado: um livro jamais escrito, um amor jamais superado, um sentido sempre movente e inapreensível, e as marcas que as experiências deixam nos corpos envelhecidos. Apesar da promessa de Ochoa de que se Mônica se curasse da loucura ele jamais escreveria o livro é preciso se haver com o passado de alguma forma. Escrever Hotel Éden. Luis Gusmán nos traz uma dimensão da política que não é a da militância, antes a do cotidiano, uma dimensão do amor que não é a do arrebatamento, mas a da contenção, do que só pode ser visto a partir de outra perspectiva que talvez os anos tragam, e a amargura do sujeito quando tudo já passou, mas permanece vivo. Ou quando, nas palavras de Ochoa, o que restam são histórias para contar.