A imagem dos anos 1950 como sendo os “anos dourados”; tem até hoje um forte apelo emocional e é constantemente reproduzida na memória coletiva, por meio da televisão, do cinema e da imprensa nacional e internacional. Nos trabalhos acadêmicos e de divulgação histórica sobre essa época, é comum a presença dessa expressão como algo naturalizado, como se demarcasse um momento histórico já explicado. Focalizando a imprensa diária e periódica mais inovadora dos anos 1950, representada pelo jornal última Hora e pela revista O Cruzeiro, este livro desvela imagens do cotidiano carioca e de seus leitores que nem sequer foram alvo das ideologias do “nacional-desenvolvimentismo”; e do “populismo”;. Qual o significado histórico para o que aquela sociedade considerava como “moderno”;? Qual a relação entre este “ser moderno”; com o nascimento de um tipo específico de cultura visual na cidade do Rio de Janeiro dos anos 1950? E qual teria sido o papel das camadas médias tanto nesse processo quanto na passagem de uma sociedade burguesa para uma sociedade de massas? Respondendo a essas indagações, esta obra narra o conflituoso dia a dia de homens e mulheres desses setores médios que, preocupados com as aparêcias, isto é, em como verem e serem vistos socialmente, ao se defrontarem com suas dificuldades financeiras, frustações emocionais e seus dilemas morais, revelam as incertezas de uma sociedade em que valores burgueses mais elitizados começavam a se estender para uma ampla parcela da população. Por isso, o receio da dissolução da família burguesa exigiu uma rearticulação do discurso normativo para as relações de gêero e atingiu as mulheres de camadas médias de modo certeiro, pois deveriam conciliar as virtudes da “rainha do lar”; do passado com a elegância, a coqueteria, o traquejo social e a necessidade da entrada no mercado formal de trabalho requerido naquele presente em uma nova síntese de comportamento entre a mãe e a amante: a mulher-objeto. A imprensa desempenhou um papel decisivo ao destinar um espaço inédito em suas páginas para essas camadas sociais e seus valores de estabilidade econômica, de correção estética e de equilíbrio moral, porém deixou entrever leituras plurais e contraditórias sobre esses ideais “médios”; inatingíveis. A convivêcia com imagens de impacto ou de conformidade social dessas publicações parecia preencher um vazio que a televisão ainda não conseguia ocupar naqueles tempos em nada dourados.