Se a história da edição e do livro no Brasil — assim como os aportes europeus que colaboraram para seu desenvolvimento — é hoje bem conhecida, bem diferente é o caso daquela que se refere aos jornais e revistas em língua estrangeira publicados no país, que, até data muito recente, era uma terra incógnita. Este livro pioneiro, organizado por Valéria Guimarães e Tania Regina de Luca, testemunha a riqueza multicultural e multilinguística deste corpus documental tão longamente ignorado. Resultado de um programa de pesquisa que se desenvolve há vários anos, cada capítulo lembra ao leitor a importância da imigração na constituição da população brasileira, mas o faz igualmente descobrir a variedade de tendências políticas, em particular, e de atitudes face à nação que acolhia diferentes grupos “étnicos”, especialmente italianos, poloneses, alemães e japoneses. O caso dos órgãos em francês e em inglês publicados no curso da segunda metade do século XIX, essencialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, é muito diferente por representar os interesses de comunidades social e culturalmente privilegiadas, que influenciaram seus alter ego brasileiros. Esses impressos periódicos, cujos fundadores provinham de duas das então maiores potências mundiais, procuravam ao mesmo tempo contribuir para a defesa e sucesso de seus interesses locais e também no resto do mundo.
Para quem quiser compreender a sociedade brasileira de ontem e de hoje em sua complexidade, a leitura deste livro é imperativa, uma vez que se baseia em novas fontes acerca desse objeto cuja história permaneceu oculta no mundo todo: a imprensa periódica publicada em língua diferente da(s) consagrada(s) como nacional(is).
Por muito tempo — e talvez ainda agora? — considerados não pertencentes à “imprensa nacio¬nal”, esses jornais que se endereçavam aos “seus”, aos compatriotas, revelam, quase sempre de forma clara e sem rodeios, as orientações, a vontade e o nível de integração à nação brasileira de diferentes grupos de