Esse livro é uma reflexão sobre o depoimento de um aluno que não conseguiu aprender inglês na escola pública. Geralmente, ouvem-se mais queixas de professores que tentam ensinar alunos que não querem aprender do que protestos de alunos que querem aprender sobre professores que não querem ensinar. Os autores vão refletir sobre os dois lados da história ao partir de sua experiência de vida para comentar o depoimento do aluno, levando em conta o contexto maior da escola. Há várias maneiras de explicar o fracasso na aprendizagem de uma segunda língua. A mais comum é pôr a culpa nos outros, que pode ser o governo, o professor ou mesmo o aluno: a culpa é do governo porque não cumpre as leis que cria, do professor porque não ensina ou do aluno porque não estuda. Condenar tem sido a estratégia menos eficaz, na medida em que, pelo menos na escola pública, cria o conflito sem resolvê-lo, e tudo acaba ficando por isso mesmo. Outra possibilidade de explicação é de que, como todos somos parte de uma rede, ninguém é culpado sozinho, e acabamos todos inocentados. Com isso, introduz-se na escola pública brasileira a bem-aventurança de viver num mundo sem culpa, professores e alunos circulando livremente entre a ordem e a desordem, sem sofrer qualquer tipo de sanção por seus atos ou omissões: ensinar ou não ensinar, estudar ou não estudar, deixa de produzir qualquer consequência, positiva ou negativa. A narrativa do aluno nos convida a pensar em vários temas: motivação, currículo, socialização escolar, profissionalização, agência e o papel do indivíduo no processo de aprendizagem. Uma narrativa que poderia ser a de tantos outros estudantes das escolas públicas em nosso país, com seus sucessos/insucessos e efeitos sobre o desejo de ser professor. Se o particular encapsula o universal, a história contada com um final suspenso nos leva a questionamentos sobre a relação entre o individual e o social, entre o desejo de transformação e a força da socialização.