Desde sempre o sentimento de medo (Angst) foi objeto da observação freudiana inclusive desde antes da descoberta do inconsciente, em A interpretação dos sonhos. Ainda quando estudava pacientes histéricas, Freud se debruçara sobre o tema na tentativa de entender as fobias. Porém, seriam necessários a experiência traumática da Primeira Guerra Mundial e o tratamento de neuróticos de guerra para a criação dos conceitos de impulso de vida e impulso de morte (em Além do princípio de prazer, de 1920), e do medo como uma angústia preparatória e protetora contra um trauma vivido. O medo deixaria de ser pensado apenas como fruto de um processo de recalque da libido, e passaria a ser articulado em conexão com impulsos inconscientes. Também influenciado por um texto do colega Otto Rank que postulava o trauma do nascimento como modelar da psique humana, Freud enfim relaciona o medo externo (traumas, perigos objetivos) com o medo interno (medo da castração). Analisando casos como do pequeno Hans e do homem dos lobos, compreende, enfim, o papel inequívoco desse sentimento, presente até mesmo nas neuroses infantis. 'A primeira experiência de medo, pelo menos do ser humano, é o nascimento, e este significa objetivamente ser separado da mãe, podendo ser comparado a uma castração da mãe [...]'. O medo, introduzido pelo nascimento e pelas repetidas e crescentes ausências da mãe, seria depois transformado no medo da castração, e a temida separação do membro equivaleria a um retorno ao desamparo originário que nos define como espécie.