A precariedade dos estudos que a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen tem suscitado revela a dificuldade que a abordagem sistemática da sua poesia implica. O grande desafio crítico - que a desmontagem deste aparelho poético propõe - reside, com efeito, na perplexa simplicidade da sua dimensão. Assim, este ensaio procura, em primeiro lugar, enquadrar a arte poética andreseana num contexto periodológico definido, recenseando as afinidades que mantém, sobretudo, com a geração dos Cadernos dePoesia. Salientam-se, depois, as coordenadas e os mecanismos poéticos que enformam a poesia de Sophia Andresen, proceden- do-se a uma incisão na modelação verbal que estrutura o seu tecido imagético e metafórico, enquanto dispositivo de presentificação do real. Contributo para a manifestação de um mundo alternativo ao mundo circunstancial e histórico, a expressão poética andreseana aprofunda-se na imanência da expressão fenome-nológica do olhar, através da qual se redescrevem as coisas, na opacidade da sua natureza dual, não contraditória, mas complementar, paradigma de inteligibilidade ao serviço de uma (po)ética que, segundo afirma a própria autora, é uma arte do ser.