Ganha nova edição a tradução em português das Interpretações Medievais do Noûs Poietikós, pergaminho anônimo do séc. XIII encontrado pelo teólogo Martin Grabmann. A nova edição é bilíngue e traz estudo introdutório elaborado pelo prof. Dr. Matteo Raschietti (UFABC), responsável também pela tradução para o português brasileiro.
Em 1936, o teólogo alemão Martin Grabmann (1875-1949) publicou uma quaestio anônima encontrada em manuscrito da Biblioteca universitária da Basileia. A quaestio Utrum beatitudo consistat in intellectu agente, supposito quod consistat in intellectu (Se a bem-aventurança consiste no intelecto agente, suposto que consista no intelecto) foi provavelmente escrita por um dominicano alemão, e a data de composição pode ser fixada entre 1308 e 1323, ano em que Tomás de Aquino foi canonizado e que, no texto, é citado apenas como frater.
Trata-se de escrito breve, de teor escolástico, que relata em modo sintético dezesseis posições diferentes sobre a natureza e o papel do intelecto agente, para abraçar a solução tomista que, no que se refere à bem-aventurança, subordina o intelecto agente ao intelecto possível. Na reconstrução histórico-filosófica, o autor começa por Platão, considerando em seguida Alexandre de Afrodísia, Avicena, Averróis, Temístio, João Filopono, Henrique de Gand, Godofredo de Fontaines, Tiago de Viterbo, Durando de São Porciano, Dietrich de Freiberg e Tomás de Aquino. Como se pode ver, é uma espécie de compêndio da teoria do intelecto desde a antiguidade até os contemporâneos (do séc. XIII): o autor da quaestio, antes de argumentar a solução que defende (que é a solução tomista), parece mais interessado em apresentar as diferentes posições, discutindo as teorias consideradas inaceitáveis.
A questão da visão beatífica é analisada filosoficamente, inclusive com referência a autores não-cristãos: o problema teológico de ver a Deus é investigado a partir das modalidades de funcionamento do conhecimento humano e, principalmente, da dime