Para um profissional que atua no ensino de Geografia a palavra cartografia faz parte do seu cotidiano. Espera-se que a disciplina desenvolva a alfabetização cartográfica. Entretanto, mais do que simplesmente ensinar como ler mapas esse trabalho implica a constituição de certas imaginações espaciais, pois dispõe os corpos para perceber e pensar o espaço como algo externo a si próprio, como algo dado. A dimensão visual da realidade é valorizada, fazendo do eixo visível-cognitivo a base para a construção do conhecimento geográfico. Mas esse caminho deixa lacunas, sendo que a realidade se impõe como algo muito maior, mais complexo e dinâmico, cujas imagens não traduzem todas as possibilidades de compreensão dos fenômenos que nos cercam e que nos permitem nos localizar e nos orientar no mundo. Como tentativa de superar essa problemática, o professor-geógrafo-cartógrafo se lançou antropofagicamente no mundo de modo a conhecê-lo não apenas pelo olhar, mas também por meio de todas as suas potências corporais, sobretudo, pelo escutar. Nesse ponto que a cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, converteu-se num grande laboratório de experimentações de escuta. Para qualificar a sua escuta o professor-geógrafo-cartógrafo buscou na Filosofia da Diferença, cuja corrente de pensamento remonta a Espinosa, Nietzsche e Deleuze, os elementos filosófico-metodológicos fundamentais que o permitiram compreender que o pensamento advém sempre de multiplicidades de afetos. Diversos pensadores-artistas, sobretudo da música e do cinema, também são intercessores importantes na medida em que contribuem para que a escuta se converta de um modo estritamente banal, como é comum nas pesquisas geográficas, para modos de escuta mais significativos: escuta atenta, escuta reduzida, escuta topográfica e escuta nômade. Escutar as intensidades da cidade de Dourados se desdobrou numa nova proposta de cartografia, a saber, o vídeo-mapa. Esse tipo de produto cartográfico expressa de maneira mais dinâmica o espaço urbano de Dourados, permitindo assim conhecer a cidade escutando as suas diferenças e singularidades. Portanto, a presente obra se soma aos esforços de tantos geógrafos no sentido de ampliar os horizontes da pesquisa geográfica e do ensino de Geografia fazendo do eixo audível-cognitivo uma nova base para a construção do conhecimento geográfico.