Este livro avalia Israel e Judá como duas nações politicamente autônomas em suas origens, estados independentes, que protagonizaram
intensa rivalidade decorrente de crises geradas a partir da monarquia
e que levaram ao cisma político, no séc. X a.e.c. De um lado, escritores bíblicos judaítas deram eco a essa rivalidade, fazendo prevalecer o
tom hostil dirigido contra Israel-norte, cujos dirigentes são acusados de
praticar idolatria (cf. 1-2Reis); de outro, paradoxalmente, parece ter havido enorme esforço em conciliar as duas histórias, como duas faces de
uma mesma moeda em que uma face não existe sem a outra. É o que
sugere a história do antigo Israel bíblico ter sido preservada, adotada
e incorporada à Judá após o exílio. Nesse processo desimbiose e interação cultural, Israel teria sido ignorado se os escribas judaítas não o
tivessem absorvido em suas tradições; da mesma forma Judá/judaísmo
teria sua identidade comprometida, se o antigo Israel fosse excluído ou
dissociado de tradições sobre um passado comum. Pensar no judaísmo
sem Israel seria como conceber uma construção religiosa sem alicerce
social. Essas tradições convergem para formar a religião bíblica como
patrimônio identitário, como tecido social vivo para além da compreensão monolítica de um passado estático, ou ainda, apresentado em
narrativas preocupadas com um conjunto de doutrinas ou dogmas.