Em 'O Mestre do Terrir', o cineasta carioca Ivan Cardoso, um "primitivo de vanguarda" segundo as palavras de Décio Pignatari, disseca a sua obra em depoimento colhido pelo pesquisador de cinema Remier Lion Rocha. Forjado sob a mesma repressão perpetrada pela Ditadura Militar que Glauber Rocha e os demais cinemanovistas sofreram, Cardoso viria a conceber um cinema que, usando a máscara do chamado "terrir" e a estética udigrudi, afrontava diretamente aquela repressão e seus desdobramentos. Mais importante do que isso, sua estética não se esgota nessa tal afronta. Pode-se dizer que os filmes de Cardoso propõem uma espécie de carnavalização cinematográfica, uma vez que, contrario a qualquer espécie de ingenuidade, exibem um niilismo ideológicoassombroso e, acima de tudo, divertido. Segundo as suas próprias palavras, Cardoso fez "filmes da época e não filmes de época". Ou seja: seu cinema é atemporal e acaba se situando além das correntes cinematográficas e convenções do gênero. O depoimento presente em 'O Mestre do Terrir' vem ajudar o espectador a contextualizar melhor o cinema de Ivan Cardoso, evitando generalizações bizarras (como, por exemplo, rotulá-lo de "trash") e conferindo a filmes como O Segredo da Múmia, As Sete Vampiras e O Escorpião Escarlate a dimensão que lhes é de direito.