O culto às Mães Ancestrais é envolto em muitos mistérios tanto no Brasil quanto em terras iorubá. Cultuar as Iyamis é, fundamentalmente, cultuar o poder feminino, o útero gestador, a cabaça ventre, o orun e o aiye, o início e o macrocosmo, o cosmo e a vida humana.
A discussão sobre o Poder Ancestral Feminino é muito complexa, porém, de suma importância e por mais que nos aprofundemos neste tema, iremos sempre descobrir algo novo. As Grandes Mães estão presentes tanto no contexto religioso afro-iorubá quanto no mundo profano.
Para começar a entender o culto às Ìyámì , temos que voltar ao tempo e relembrarmos o mito da criação do mundo, quando Olódùmarè dividiu o mundo existente em Orun - os céus - e Aiye - a Terra - e designou uma expedição para criar no Aiye o que fosse necessário para que o humano o habitasse. Ao dividir Orun e Aiye, o Ser Supremo criou o poder masculino, representado por Obatalá, e paralelamente, através de Ìyá Àgbá, o poder feminino, que tem poder irrestrito sobre tudo e todos no Novo Mundo.
Entre os iorubá, as Iyabas - as Orixás mulheres - são consideradas Mães Ancestrais, sendo a mais velha delas Nanã, que ocupa um lugar específico e sutilmente mantém sua ligação com as mais antigas Ìyámì, mostrando o poder da vida e o da morte que carrega consigo. Iemanjá também tem acrescido aos seus poderes a força das Ìyámì e sua auto-suficiência quando o mito nos revela que ela teve um caso incestuoso com Xangô, reforçando dessa maneira, todo poder que as Grandes Mães armazenam em seu ser. É por isso que nas tradições de espiritualidade africana as Mães Ancestrais e as Iyabas têm em comum a irascibilidade e, depois do Ser Supremo, só respeitam e acatam as ordens de Obatalá, a arquidivindade do Panteão dos iorubá.
Em Iyami Oxorongá - O Culto às Mães Ancestrais , o pesquisador, escritor e sacerdote de Tradição Iorubá Fernandez Portugal Filho traça as origens míticas e espirituais dessas energias-potência, descrevendo em detalhes seus fundamentos religiosos , as sociedades secretas de culto às Energias Ancestrais da gestação e criação, suas rezas de invocação e culto em iorubá e em português, bem como apresenta receitas de rituais e oferendas para apaziguar sua ira e atrair suas bênçãos ao nosso dia-a-dia.