Em Jacarandás em flor, Maria Christina Lins do Rego Veras, herdeira de José Lins do Rego, fez uma mistura de suas memórias com passagens ficcionais e assim apresentou um panorama de sua vida. O convívio com o mestre do regionalismo aparece relatado ao lado de personagens femininos que marcaram a vida da escritora. Experiências como embaixatriz em diversas partes do mundo também ganham destaque. A partir de cartas, diários e muitas lembranças, a autora conta as passagens mais interessantes de sua infância, adolescência e vida adulta. O convivo com personalidades como Graciliano Ramos e Gilberto Freyre aguçaram a curiosidade intelectual da autora, que recorda as visitas destes e de muitos outros amigos a casa em que vivia com seu pai. O clima bucólico do Rio de Janeiro em meados do século XX são o pano de fundo de várias histórias. Ivan Cavalcanti Proença, responsável pela orelha do livro, destaca a capacidade de unir a leveza com que a autora conta a história de uma vida junto com momentos delicados da história do país. “Jacarandás em flor é essencialmente memória, com expressiva inserção ficcional aqui e ali, como convém ao gênero que não se define autobiográfico. (...) As épocas se sucedem ao longo do livro, desde a breve lembrança-charme de Lana Turner às barbaridades da ditadura do Estado Novo: assassinato, invasão de aparelho, ações do DIP, nenhuma novidade diante do que ocorreria, agora por vinte anos, no Brasil mais recente”, avalia. Mulheres marcantes na vida da escritora ganham capítulos à parte. Personagens virtuosas, anti-heroínas e outras de várias tendências são apresentadas de forma caricatural ou fidedigna: a amante, a super-romântica, a deusa mulata, entre outras figuras povoam o livro. O relato do rico contato com culturas de diversas partes do mundo proporcionam uma reflexão profunda diante das desigualdades sociais, dos contrastes “civilizatórios”, inclusive em países que ficaram décadas sob o jugo de colonizadores.