Como um corpo que ao dançar produz a música que o faz dançar assim esses estranhos desde o nome e como se comuns agora seres animados pela mão que escreve passam a existir quando são lidos e por menos irreais que antes não fossem existissem descobertos como existem inventados tanto faz ou não reais ou mais reais que os outros muitos animais que habitam pastos ou cavernas mares pântanos secretas virgens selvas que o cabelo esconde corpo que respira e pulsa fábula que se transforma em fato como a fé que faz do mito carne e osso feto e fóssil de uma espécie desde sempre extinta mas não extinguida prenhe de presente em novos velhos sonhos feras fêmeas zembras machos sombras ou hermafroditas répteis ou parasitas monstros invisíveis por estarem tão expostos ou remotos de tão próximos irús giromas radiuns esquecidos por Noé em alguma ilha aonde o rosto do grotesco tem cara de maravilha e assim como na linguagem do verbete enciclopédico a ciência tem a faca e o disfarce da ficção ou não ou tanto que serpente tem na língua ainda quente o gen e o gênio do dragão ausente aqui na terra fértil onde anda e há de andar perenemente entre cardumes de yararás guapés e nácares sem pés só pelos cordes kwiuvés seres de vento bichos-ritos arquetípicos limosos e os que têm apenas olhos pelo corpo todo bolas do tamanho de uma mão fechada phosphoros tatãs rememorantes de nariz em carne viva tiguasús lazúlis núbeis que se matam só de tanto copular desde nascer quem morre só de olhar avista quem não crê que existam assim terríveis ou incríveis frágeis de asas finas catoblepas ivitús agôalumem no inventário de invenções de Wilson Bueno com seu voo sobre o zoom do nosso olho no seu zôo.
Arnaldo Antunes
Wilson Bueno é autor, entre outros livros, de Mar Paraguayo (lluminuras), Cristal (Siciliano), Manual de Zoofilia (Noa Noa/Ed. da UFPG) e Pequeno Tratado de Brinquedos (lluminuras). Integra Medusario (México, Fondo de Cultura Económica), rigorosa seleta da mais recente produção literária latino-americana.