Do alto da Sua onipotência, inalcançável pela claudicante inteligência humana, presa e restrita ao cárcere carnal, desejosa de alçar voos mais altos, observava aquela pequenina individualização de princípio debatendo-se em ambiente hostil. Bilhões de anos terrestres haviam-se passado até aquele ser diminuto ganhar consciência própria. Transitara por todos os reinos conhecidos, experienciara todo tipo de fadiga; sentira, vira, e agora se diferenciava em sentido único e indivisível. Como Pai amoroso, Deus está acima de tudo, onde o tempo não existe; apenas uma unidade monista em cujo seio há diversidade; diversidade na unidade: UNIVERSO.
A noite trazia consigo as sombras da escuridão, que abria brecha apenas para o cintilar mavioso das estrelas que respingavam o Céu da Galileia. Jesus esticou o corpo e Se deitou no chão, com a cabeça recostada no tronco da árvore que O abrigava. Não demorou, caiu em sono profundo. Perto dali três homens de índole duvidosa esgueiravam-se pela beirada do caminho, à procura de alguma vítima a quem pudessem assaltar. Quando se aproximaram da oliveira onde Jesus repousava, enxergaram o vulto do Mestre, que dormia profundamente. Silenciosos, aproximaram-se de mansinho, com os olhos fixos na sacola que jazia ao Seu lado. Estancaram os passos e ficaram de espreita, avaliando se Aquele dormia ou estava apenas de olhos fechados. Chegar mais perto e auscultaram a respiração tranquila e cadenciada de Jesus. Entreolharam-se. Com certeza, dormia profundamente; seria fácil surrupiar a sacola, na qual imaginavam conter algo de valor. Com todo o cuidado, um dos homens adiantou-se com a determinação de pilhar a sacola. Agachou-se devagarinho e começou a estender a mão em direção ao objeto do furto, quando, de súbito, deu um salto para trás e se pôs a correr. Os outros dois companheiros, ignorando o que se passara, não perderam tempo: por via das dúvidas, também bateram em retirada, correndo tudo o que podia