Entre as incontáveis apreciações biográficas, teológicas e devocionais sobre Jesus de Nazaré, esta de A.-D. Sertillanges se destaca por virtudes que só mesmo seu autor poderia lhe imprimir, e pela singeleza tão adequadamente expressa neste título curto, Jesus. A obra foi escrita sob a impressão de uma viagem à Terra Santa e reproduz o encantamento de quem, ao visitar os cenários dos Evangelhos, usufrui por um instante a sensação de ser contemporâneo de Cristo. Ela se concentra, portanto, em descrever os vários momentos e aspectos da vida terrena do Messias - sua personalidade, seu nascimento, seus anos de formação, seu ensinamento, seus hábitos de devoção, sua confrontação aos poderosos, sua relação com os discípulos, seus vínculos com a terra onde viveu. Trata-se, assim, de uma ode à figura humana do Nazareno, porém desde o princípio destinada a mostrar que esta é indissociável da sua divindade. Aqui se torna decisiva a mente filosófica de Sertillanges, grande pensador tomista, interlocutor de Henri Bergson e precursor das obras de Étienne Gilson e Jacques Maritain. À vazão poética e ao sentimento piedoso do texto, se soma a solidez de um entendimento da alma humana já manifesto em livros como A Vida Intelectual: o verdadeiro núcleo da individualidade é a vida interior, sempre misteriosa e, no caso de Jesus, transbordante e perfeita. Durante o ensaio, pontuais esclarecimentos doutrinários são feitos, com o resultado superior de proporcionar uma cristologia robusta, consoladora para o crente e instigante para o incrédulo. No filho de Maria, é o que no fim resta reconhecer, a criação alcança o seu ápice e encontra o seu modelo.