Desde 1850, com a Lei de Terras, que estabeleceu a compra como a única forma de acesso à terra (ou seja, transformou a terra em mercadoria), e 1888, com a Lei Áurea, que “extinguiu” a escravidão no Brasil (ou seja, formalizou a “libertação” dos escravos), observamos o agravamento da questão fundiária no Brasil. De um lado, as classes dominantes, os donos do dinheiro com o qual poderiam comprar terras ou pagar pelos seus documentos de propriedade (falsos ou não), que não queriam apenas algumas terras, mas todas elas, principalmente as melhores. De outro lado, uma grande população rural que, não tendo dinheiro nem terra, vivendo ao deus dará, teriam de lutar para conquistar seu direito à vida como um direito acima do da propriedade. Em Santa Fé do Sul, no noroeste do Estado de São Paulo, o conflito entre mais de 800 famílias de camponeses (“mais de 5 mil pessoas, muitas delas numa situação de total miséria”) ameaçadas de expulsão por um poderoso latifundiário não era diferente dos milhares de conflitos que pipocavam por todos os cantos do país. Foi nessa luta que surgiu a figura lendária do “Fidel Castro sertanejo”, Jofre Correa Netto, o capitão camponês que organizou a defesa dos camponeses, quando o latifundiário, para agilizar a desocupação das terras, “ordenou que o capim fosse imediatamente plantado nas lavouras dos camponeses, os ranchos deles, queimados, e o gado fosse solto para destruir o que restava de suas lavouras que lhes serviam de alimentação”. A tática de defesa dos camponeses ficou conhecida como “operação arranca capim”. A história é escrita pelos vencedores, mas, embora vencidos temporariamente, as classes dominadas têm uma história de luta que precisamos conhecer. E este pequeno texto nos mostra muito da garra dos camponeses na luta pela sua vida.