Que absurdos levam uma civilização à guerra? Essa talvez seja a questão mais provocativa que perpassa Johnny vai à guerra, clássico cult do norteamericano Dalton Trumbo sobre os destroços da Primeira Guerra Mundial. A mais provocativa, mas não a única neste livro que se transformou numa bandeira contra a luta armada e a violência assim que foi lançado, em 1939.
Narrado por Joe, um sobrevivente de guerra gravemente mutilado, o livro é uma correnteza de pensamentos ora desesperados ora contemplativos que acometem esse homem imóvel num leito de hospital. Ainda
que seus sentidos estejam comprometidos, o que o deixa incapaz de se comunicar, Joe está consciente. Sem saber em que país está ou se sua identidade foi reconhecida ou não, ele transborda os limites do corpo para chegar a um fluxo de consciência que transita entre as memórias e o medo de um futuro sem perspectiva.
A brutalidade perturbadora do depoimento, ao relembrar as experiências bélicas, é pontuada pelo instigante desenvolvimento de habilidades mentais e sensoriais pelo qual Joe se obriga a passar para tentar se comunicar e distinguir realidade de imaginação.
Escrita sem nenhuma vírgula, a narrativa é acelerada como um sonho em que lembranças, desejos e traumas se juntam para formar um roteiro cinematográfico – certamente uma influência que Trumbo recebeu
de seu premiado trabalho como roteirista em Hollywood. A capacidade narrativa e o tema tão atual desde o momento em que veio a público fizeram deste livro uma leitura urgente e um protesto atemporal, tanto que ressurgiu na geração da Guerra do Vietnã e chega até o nosso tempo, tão assombrado pelas questões de violência e lutas armadas em nome da liberdade.