Simone, 28 anos, ex-catadora de lixo, trabalha numa fábrica de couro em Jardim Gramacho; ela sonha retomar o contato com as filhas do primeiro casamento e voltar a estudar para ser enfermeira. Sidney, 22 anos, cantor e compositor de funk, pai de três filhas, auxiliar de serviços gerais em um shopping de Niterói e aluno do ensino médio, almeja reconhecimento na música. Tomás, 22 anos, estudante universitário de geografia e “embaixador do rei” na Igreja Batista nos fins de semana, gosta de tirar fotografias em busca de ampliar suas possibilidades.Essas e outras histórias fazem parte deste livro, fruto de cuidadosa pesquisa de campo empreendida no Jardim Catarina, bairro de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. O processo investigativo cria uma cartografia do lugar, dos corpos e das relações. A autora segue o caminho de flâneur para trazer à tona percursos labirínticos traçados por jovens pobres e com escolarização precária e também por antigos moradores, como dona Georgina, 52 anos. Trata-se de um texto que tem na observação seu método, sua matéria e seu maior trunfo.Ao investigar as vidas dos entrevistados, a autora percebeu como o descaso do poder público com seus habitantes reflete-se na falta de estrutura do local — saneamento básico, transporte, segurança, educação. A vontade de estudar dos jovens do Catarina esbarra na crise da escola pública diante de processos de escolarização precários, além de problemas como o tráfico de drogas, a violência policial e a necessidade de inserção cada vez mais precoce no mercado de trabalho. Contra as adversidades, porém, há potências de vida, esperanças, expectativas e sonhos, registrados com apuro nas palavras nômades que compõem este livro.