Segundo o texto de orelhas, intitulado "O poeta gnóstico da literatura brasileira", do escritor português António Cabrita, nos livros de "Andara", que o poeta da Amazônia Vicente Franz Cecim "transcreve" desde 1979, e de que "K O escuro da semente" é a quarta súmula, a aventura da escrita dá-se como real "in status nascendi" e o fito (talvez desde "Ó Serdespanto") é testemunhar a passagem do relator a um outro nível da consciência, a esse limiar que acedemos, “homens, depois das palavras” (o poeta não se refere ao pós-morte, previna-se, mas ao “não-mental” do budismo, ou da “Nuvem” de Ibn Arabi), e onde o múltiplo, experimentada “a alegria de ser breve”, retorna ao Um, ao Uno. (Leia o restante do texto, a seguir)A dificuldade de leitura deste livro (que nos recoloca na órbita de Mallarmé, Michaux, Artaud, Llansol, Edmond Jabès, de Gunnar Ekelof e de outros “místicos” ou gnósticos da literatura) e da transmissão sobre aquilo de que trata resulta de o mesmo não nos falar a partir de um “universo de representações”, colocando-nos na fronteira de uma realidade não-dual, de uma outra gravitação, onde o quotidiano não tem campo. Nascido desta visão “trans”, o livro faz-nos participar de uma descida ao coração dos elementos e ilumina o “vazio que neles transborda”. De certo modo, K O escuro da semente prolonga o diálogo entre Pai e Filho que se lê em “Chandogya” (um dos “Upanishads”) e no qual um pai pede ao filho para partir o fruto e as suas sementes e lhe descrever o âmago. Quando o filho responde que “lá dentro não há nada”, o pai replica: “Meu filho, dessa mesma essência da semente que não consegues ver, dessa essência invisível, vem, na realidade, esta frondosa árvore. Tu és Isso”. Cecim, como outros autores na sua esteira, escreve sempre o mesmo livro sob um novo ângulo, numa busca do que é mais conforme à fonte. As figuras, os topoi, as metáforas que se apresentam neste longo poema já estão presentes nos anteriores. K O escuro da semente ergue-se então como um novo