'Kadosh' (cujo título original era 'Qadós') inclui quatro textos bastante originais, marcados pela destreza da inteligência, nunca destituída de humor negro ou nonsense, conduzindo o fio do discurso em meio a um labirinto que, paulatinamente, evidencia-se tanto monstruoso quanto magnífico. Trata-se de uma narrativa dramática da experiência pessoal que, aparentemente, transcende a própria experiência e a possibilidade da narrativa, cabendo mais à poesia ou ao ensaio filosófico e crítico. Conforme afirma Alcir Pécora, professor de teoria literária da Unicamp e organizador da obra, o resultado é uma espécie de contraponto composto de maquinismo psíquico, arrebatamento demiúrgico e cerebralismo irônico. Editado em 1973, 'Kadosh' é o segundo livro em prosa escrito por Hilda Hilst e o terceiro do gênero escolhido para dar continuidade à atual edição reunida de sua obra pela Editora Globo. Dividido entre a filosofia, a teologia e a prosa poética, Kadosh é a busca possível de Deus, inventariado em dezenas de nomes: Máscara do Nojo, Grande Obscuro, Cara Cavada, Cão de Pedra, Tríplice Acrobata, Sorvete Almiscarado... Para Claudio Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Kadosh inclui técnicas literárias e temas sempre presentesna obra hilstiana: o humor escatológico, o erotismo, a preocupação com a morte, a hipocrisia social, o conhecimento limitado da realidade, a forma narrativa não linear e o descentramento dos personagens. De acordo com o crítico literário Leo Gilson Ribeiro, "Hilda é a mais perfeita escritora em língua portuguesa viva. Há vários anos, é a mais abissal e deslumbrante prosa poética do Brasil posterior à genialidade de Guimarães Rosa."