A comunidade Kalunga, localizada no Nordeste do Estado de Goiás desde o envolvimento da antropóloga Mari Baiocchi na década de 1980, da elaboração do artigo 68 dos Atos dos Dispositivos Constitucionais Transitórios da Constituição Federal Brasileira de 1988 e a posterior participação do movimento negro, tem se mobilizado na organização e reafirmação étnica de construção identitária em torno do ícone quilombola, sustentada pelo etnônimo Kalunga. A partir de 2004, esse processo foi intensificado porque esse grupo tradicional ganhou visibilidade a nível federal ao ser tomado como plano piloto para o reconhecimento e regularização fundiária no governo Lula. A certidão de reconhecimento da comunidade foi emitida em abril de 2005 e a titulação em 2009, com o Decreto do dia 20 de novembro, restando agora os processos de desintrusões e indenizações a cargo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra. Neste livro, busco apresentar, de forma etnográfica, a dinâmica de (re)configuração cultural, a partir do reconhecimento, que resultou na adoção do etnônimo Kalunga, como ícone identitário. Os dados foram coletados por meio de uma atenciosa escuta das trajetórias individuais de parte dos moradores da comunidade, o que possibilitou a apreensão das estruturas de parentesco presentes na comunidade e como essas orientam a ocupação territorial. Tais dados possibilitaram a elaboração dos conceitos: “etnicização”, “campo étnico-quilombola”, “donos da terra” e “negros de verdade”. O livro, então, discute questões relativas à etnicidade e raça, a formação sócio-histórico brasileira a partir de suas bases colonialistas e escravagistas, a participação do movimento negro brasileiro e da academia, discussões sobre o fenômeno quilombo, os impasses, dificuldades e trâmites do artigo 68, direito agrário e fundiário, reconhecimento, identidade e territorialidade.