Seguindo o fio condutor da precoce e persistente meditação de Kant sobre a Terra – desde os juvenis ensaios sobre aspetos da História da Terra e da Cosmogeogonia, sobre o terramoto de Lisboa, a sucessiva dedicação ao ensino universitário da Geografia Física e as inúmeras reflexões que constituem o acervo do seu pensamento geográfico até às tardias reflexões em que apresenta a Terra como um sistema e um corpo orgânico –, neste livro põe-se em evidência a profunda consciência que o filósofo tem da íntima relação entre o Homem e a Terra e o quão decisivamente a condição telúrica do Homem configura a sua Antropologia, a sua visão da História e a sua filosofia do Direito e da Política. Kant revela-se assim não apenas como um incontornável pensador da Terra, mas também verdadeiramente como um filósofo com os pés na Terra, graças ao que até o seu pensamento mais especulativo – conhecido por idealismo transcendental e apriorismo – deixa ver as suas bases realistas e empíricas, expondo-se como uma espécie de Geografia transcendental e revelando o seu autor como um verdadeiro “geógrafo da Razão”. Nos ensaios reunidos neste livro, Immanuel Kant (1724-1804), geralmente conhecido como o filósofo da “razão pura”, do “idealismo transcendental” e do “apriorismo”, revela-se, antes de mais, como um pensador da Terra, da natural condição telúrica do Homem e da indissociável relação da Terra com o destino histórico da Humanidade, com tudo o que isso implica, no plano físico e existencial e no plano ético e político-jurídico. O cosmopolitismo kantiano ganha assim uma inequívoca base de realismo: verdadeiramente, o que nele está em causa é a ideia de instituição de uma universal e justa Lei da Terra e dos Povos que a habitam, a qual consagre o efetivo “direito de cidadão da Terra” (Recht des Erdbürgers) que cabe a todo o ser humano que nela nasce pelo simples facto de nela ter nascido.