Desde os anos 70, o poeta Waly Salomão é uma referência constante na produção artística do país. Ele foi o criador, ao lado de Torquato Neto, da emblemática revista Navilouca. Realizou trabalhos com Caetano Veloso, dirigiu espetáculos de Gal Costa, investigou a vida e a obra do artista plástico Hélio Oiticica e flertou diversas vezes com a MPB e com o rock. Em 'Lábia', o autor dá continuidade ao trabalho poético do livro 'Algaravias', no qual afirmava que "a memória é uma ilha de edição". Seu trabalho de corte e colagem faz um cuidadoso reprocessamento poético de diversos elementos: da violência à tecnologia, da catarse à serenidade. "O título Lábia é uma provocação, uma isca para o leitor. Minha poesia está cada vez mais construída e elaborada - e menos montada sobre a verve verbal. Me considero quase antítese da escritura automática dos surrealistas", afirma o autor. O livro conta com um capítulo intitulado "Post-mortem", realizado depois que o poeta foi submetido a uma angioplastia. Nela, Waly Salomão rompe com o que ele denomina de "vidinha literária": "Que durante o resto de tempo que me é concedido viver / e na hora H da minha morte / estampada na minha face esteja a legenda: / O que amas de verdade permanece, o resto é escória."