Latino-Americanizando o Brasil: A crítica literária e o diálogo transnacional trata das propostas de integração do Brasil no paradigma cultural e literário latino-americano entre as décadas de 1960 e 1980. Examinando as relações de troca, os projetos e os escritos dos críticos Antonio Candido, Ángel Rama, Emir Rodríguez Monegal e Haroldo de Campos, intelectuais que se dedicaram incansavelmente a promover a circulação de ideias na América Latina, Thayse Leal Lima explora o impacto desses diálogos sobre as noções de identidade cultural, tradição literária, cânone e nação. Uma das questões centrais aqui levantadas refere-se ao impacto que os projetos de integração produziram no modo como a identidade cultural brasileira e a latino-americana vinham sendo pensadas até então. A autora argumenta que o esforço em aproximar as duas grandes tradições continentais estimulou tanto a revisão do paradigma latino-americano, historicamente definido com base na língua e na cultura hispânicas, quanto o descentramento do enfoque predominantemente nacional que havia informado a teoria literária e cultural no Brasil até então. O livro busca situar a ascensão do latino-americanismo no campo da crítica literária brasileira e hispano-americana. Embora reconheça que o contexto político (marcado pela Revolução Cubana e pela ascensões dos regimes militares) tenha impulsionado a onda latino-americanista, a autora afirma que o viés histórico não explica completamente o que levou intelectuais de orientações ideológicas e estéticas tão variadas e, em certos pontos divergentes, a se dedicarem ao ideal de unificação transnacional. Sua análise leva em consideração as condições específicas do campo literário para demonstrar que, nesse espaço, a integração também traduzia um desejo de influir no regime de circulação e intercâmbio internacionais, que em grande parte ainda ocorria no eixo centro-periferia. Com base em ampla pesquisa de arquivos e em uma leitura atenta de fontes primárias, Lima demonstra como críticos literários e culturais mobilizaram o paradigma transnacional para conectarem-se com um público mais amplo, dentro e fora de seus países de origem. Nesse sentido, além de contribuir para um maior entendimento da complexa história de inserção do Brasil na América Latina, sua pesquisa lança luz também nas estratégias utilizadas por tradições intelectuais marginalizadas para negociar e imaginar seu lugar na esfera das relações mundiais. Além de oferecer uma análise profunda das relações entre críticos literários hispano-americanos e brasileiros durante um período de intensas transformações políticas, culturais e literárias, este livro expõe as implicações do latino-americanismo para as epistemologias de base nacional e continental e para as trocas literárias e intelectuais entre os países ditos periféricos.