A Lente é um trabalho que remete ao conceito brechtiano de ação, entendido não apenas como o produto de um pensamento criador politicamente empenhado, mas como proposta de um olhar crítico desejoso de intervir na sociedade à sua volta A peça utiliza a forma épica, coerente com a natureza das questões coletivas de que trata: seu foco crítico são os mecanismos de controle social e ideológico direta ou indiretamente ligados à retórica do Estado na presente fase do capitalismo no contexto nacional. As personagens são não apenas os que habitam os bolsões de pobreza da megalópole, mas também aqueles que, em plena esfera da representação política nacional, aplicam seus golpes. Fazendo uso dos recursos da sátira e da paródia, o espetáculo expõe os malabarismos de raciocínio que embasam argumentos destinados a 'justificar' o uso privado de dinheiro público, a manipulação de cargos e interesses, a revogação dos direitos trabalhistas e a implementação de projetos destinados a multiplicar os vencimentos de seus próprios proponentes. O texto caracteriza-se como um trabalho de natureza não apenas crítica e reflexiva, mas ao mesmo tempo fortemente propositiva e disposta a prosseguir no caminho de um teatro abertamente político como perspectiva de reflexão e de construção do pensamento.