Nestas Lições de Poética, Paul Valéry (1871-1945) nos propõe considerar a literatura — e a arte em geral — não como “obras” acabadas, mas, primeiro, como atos do intelecto que a compõem, e, segundo, como atos do intelecto que recebem a obra. Aliás, hoje mesmo se fala muito em escritura — e ainda mais em leitura —, mas quantas vezes nos lembramos de que esses substantivos se referem a atos de intelectos individuais?
Mesmo que o intelecto produtor saia de si para tentar calcular os efeitos da obra em quem vai contemplá-la, ele inevitavelmente volta a si para a composição. Para ele, a obra mesma é o termo desse processo. Para o leitor (ou para o ouvinte, para o espectador…), porém, a obra nada mais é do que a origem de uma nova série de atos do seu próprio intelecto.
Assim, fica o convite para não reduzirmos as obras a escolas ou a estilos, mas para tentar captá-las como atos de outro espírito, e para que nos examinemos a nós mesmos ao sofrer seu impacto