LILITH

“Quando eu era eva eu não entendia. Não entendia que se eu abrisse um buraco na estriada pele de adão, ele também sangraria junto comigo e entenderia talvez a naturalidade das minhas águas. Não entendia que se arrancasse cada costela de adão, teria muito mais evas e muito menos adão.” Se fosse música, haveria ruídos. Se nanquim, borrões. Se filme, vermelho enegrecido. A escrita de Horácio Dib acaricia e explode o novo mesmo mundo. Em Lilith, a principal personagem é mais que uma. Dissolvem toda letra e parede. Em uma casa onde pai e avô perpetuam-se no imenso escritório do poder, mães, tias, avós e irmãs apertam-se em pequenos cômodos. Alimentam-se do que sobra, do que falta. Até que não mais. Rasgam roupas e véus brancos, “porque a liberdade é algo que pode ser escondida dentro do corpo nu”. Mas quantas casas cabem em um mundo?