Finalista do último Prêmio Jabuti – na categoria Poesia –, Mônica de Aquino retorna, nesse novo trabalho, ao universo da mitologia grega, onde vai reencontrar Penélope, a personagem (e o mito) em torno do qual giram todos os poemas do livro. Trata-se de um volume híbrido: nele tem lugar a retomada e a reescrita de poemas anteriormente publicados em Fundo falso (2018), textos inéditos sobre a mesma matéria e a convocação, em gesto expansivo e dialógico, de outros poetas, a cujas vozes Mônica de Aquino vai somar a sua, numa estrutura coral de ampla ressonância que permite ver a diversidade e atualidade do mito grego. Se Penélope é o modelo da esposa fiel, a mulher que espera e tece o fio dos dias, nos poemas de Mônica de Aquino a personagem, muito modernamente, faz o pensamento dar voltas sobre si, recusa o lugar obediente e servil que lhe é imposto, toma consciência do desejo, tantas vezes destrutivo, que a habita. A subversão é o elemento principal do livro. E subverter, como se sabe, é colocar de cabeça para baixo, alterar drasticamente o sentido, desviar o curso esperado – variar, produzir diferença. E é esse o movimento fundamental dos textos que Mônica de Aquino, agora não apenas poeta, mas também agenciadora (tecelã) de outras vozes, recolhe. Os poemas e as imagens de Jussara Salazar, Prisca Agustoni, Lenora de Barros, Daniel Arelli, Ana Martins Marques, Guilherme Gontijo Flores, Lu Menezes, André Vallias, entre outros, multiplicam os significados do mito, confundem os caminhos, embaralham as cartas, desfazem as expectativas em torno da doçura e da paciência atribuídas a Penélope. Subitamente ela é violenta, política, erótica, outra – podendo portar, inclusive, diferentes nomes. Conforme se pode perceber desde o título e a capa (feita a partir de uma instalação da artista japonesa Chiharu Shiota), a sucessão dos fios e dos poemas estranha a narrativa já conhecida e desconcerta o leitor. Múltiplo, inventivo, Linha, labirinto confirma a singularidade da poética de Mônica de Aquino no panorama literário atual no mesmo passo em que revela a riqueza de matizes desse panorama, formado pelas vozes que, com a autora e a partir dela, vão construir esse artefato poético a um só tempo arcaico e contemporâneo, próximo tanto de Homero quanto de James Joyce e Louise Bourgeois.