O conteúdo do baú de Fernando Pessoa parece infinito, e de tempos em tempos a bibliografia pessoana se enriquece com mais um achado, como acontece com este guia turístico escrito propositadamente em inglês em torno de 1925. Lisboa: o que o turista deve ver, em edição bilíngüe com prefácio e tradução de Teresa Rita Lopes, levará o leitor, turista ou não, pelos marcos arquitetônicos, artísticos, folclóricos ou de puro lazer da chamada "cidade branca".
Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa, pretendia com este guia, inédito até 2006, inaugurar uma série de publicações visando dignificar Portugal, "descategorizado", segundo ele, frente ao continente europeu. Com mais de oitocentos anos de história, e em grande parte intacta desde os dias de Pessoa, Lisboa se deixa aqui revisitar pelos olhos do poeta que em tantos e importantes heterônimos se desdobrou.
Sentaremos nas mesas dos cafés "A Brasileira", "Montanha" ou "Martinho da Arcada", que ele freqüentava, subiremos às amieiras do Castelo de São Jorge, construído pelos mouros e marco da fundação do estado português, palmilharemos o Terreiro do Paço, o Cais do Sodré e todos os mil cantos e recantos, ensolarados ou sombrios, de uma cidade quase totalmente reconstruída pelo Marquês de Pombal depois do terremoto de 1755, que pôs abaixo boa parte da antiga Lisboa medieval.