Você já pensou que poderia levar mais de um milhão de séculos para ler um poema alexandrino ao mesmo tempo que, num só átimo de tempo, poderia criar com base nele o seu próprio poema? E, o melhor, você não seria um plagiador no sentido estrito do termo. É o caso de "Cent mille milliards de poèmes", de Queneau. Pensou em ler um romance no qual você, leitor, constrói o percurso do enredo? Em O Castelo dos Destinos Cruzados, de Italo Calvino, a narrativa discorre em todos os sentidos com bifurcações de destinos, e cabe a você, autor e leitor e, simultânea e inversamente, leitor e autor, construir sua trama. E aquelas escrituras em que o autor coloca uma restrição, começo e fim já preestabelecidos ou a omissão de certa letra, e outras em que o texto se move como o cavalo no tabuleiro de xadrez (função que obedece a certos requisitos)? Em determinados casos, ainda, tudo se encontra como que em um quebra-cabeças, com paradoxos, adivinhações, espelhamentos, palíndromos, criptografia, como em Arnaut Daniel, Cervantes, Lewis Carroll, Edgar Allan Poe, Júlio Verne, Queneau e vários contemporâneos nossos. Neste Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo, que a editora Perspectiva publica em sua coleção Big Bang, Jacques Fux, que possui a seriedade de um pesquisador e o imaginário de um romancista, nos introduz numa galáxia de astros-escritores que vão girando e criando em torno de um sol, cuja massa tem a infinitude dos números primos (aqui, os menciono por suas propriedades tão singulares) e a estrutura do pensamento criador da matemática geradora de tantas perguntas nem todas ainda respondidas que aguçam a nossa mente, com ou sem um bom computador. Espero, pois, que a leitura desta obra faça com que os que amam a matemática venham a amar a literatura e os que amam a literatura venham a descobrir na matemática outros tantos encantos.