Era uma vez um romance destinado a permanecer contemporâneo, apesar da insistência do tempo. O livro é Lord Baccarat, do escritor Alcy Cheuiche, que, nesta nova edição, oportuniza uma experiência literária vertiginosa, capaz de envolver leitores de todas as idades. Esse efeito é alcançado pelo casamento entre o corpo do romance e sua alma. Sobre o corpo, os capítulos breves mantêm seu fôlego intenso. A linguagem cinematográfica valoriza os olhos, recupera o apelo visual notadamente marcado das produções culturais contemporâneas. E a oralidade traz o espontâneo da história contada, peça-chave de grandes clássicos como As Mil e uma Noites. Entretanto, de nada adianta a estrutura sem a alma. Pois o corpo do livro é animado por um enredo de aventura, no qual Armando, pai de Vavá e dono do barco Avante, busca vingança para aplacar sua sede de justiça. E pretende usar o cavalo Lord Baccarat para alcançar seu objetivo. Enquanto isso, com lógica impressionante, desenrola-se um painel histórico-político da América Latina, preenchendo de sentido a relação entre os acontecimentos particulares da trama e os substratos contextuais. Mas, acima de tudo, Lord Baccarat é um alerta sobre o perigo das drogas, principalmente na adolescência. Do mesmo modo, este livro é também uma narrativa sobre o amor e a esperança, sobre o afeto e o recomeço, elementos que resistem como condição humana em cada um de nós. Um livro necessário, portanto. Uma obra com corpo e alma, para o bem e apesar do mal. Lucas Zamberlan Professor universitário e escritor