O cinema brasileiro tem uma ampla filmografia sobre a ditadura militar brasileira, que acaba por compartilhar questões historiográficas e memórias produzidas pelos protagonistas daquele momento dramático. A luta armada dos anos 1960 e 1970 é um dos processos históricos mais representados pelo cinema de ficção e pelos documentários. Normalmente, os estudos de história enfocam um ou outro gênero, a parti r das relações entre o filme e a 'realidade' que lhe é exterior. O caminho escolhido por Fernando Seliprandy neste livro vai na contramão destas tendências da historiografia. Ficção e documentário - O que é isso, companheiro? e Hércules 56 - são analisados de maneira entrecruzada, nos quais as regras de gênero narrativo são cotejadas com o material histórico que lhes servem de referência, ou seja, o sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick em 1969. Fernando Seliprandy realiza este cotejamento não para concluir qual filme fala a 'verdade histórica', ou se algum deles é fiel aos 'fatos'. Ao contrário, os filmes são tomados como peças de intervenção no debate político e cultural. Neste senti do, tanto a ficção quanto o documentário, mesmo estando além e aquém do real, fazem parte da experiência histórica, formatando eventos, revendo tabus e construindo senti dos para o passado que não passa da ditadura brasileira.