Este ensaio, inerente à compreensão do fazer cinematográfico, numa primeira etapa, a partir do debate secular de estudiosos de estética, artistas, sociólogos, cientistas, jornalistas e profissionais de cinema levanta quesitos sobre a relação intermidiática entre pintura, fotografia e cinema. Temos aqui o cinema entendido não só como arte do audiovisual, mas como somatória de tantas outras, sem desprezar sua particularidade. Numa segunda etapa, ganha a cena o olhar de Edward Hopper, o “pintor da solidão”, sua a visão sobre a noite e a representação dos personagens notívagos em suas obras; o desenho das luzes e das sombras, a atuação de seu imaginário pictórico em função da atmosfera e dos cenários noturnos. Em contrapartida a Hopper, mas sob a mesma conjuntura da dramatização e encenação da noite, a visão dos diretores de fotografia Vittorio Storaro e Henri Alekan entra em foco. Os dois profissionais da imagem cinematográfica expõem seu modo interpretativo, aliando técnica, criatividade e expressão, na reprodução e representatividade das cenas noturnas. A investigação das obras desses três artistas nos leva ao entendimento de que imagens audiovisuais de cenas noturnas são construídas não de forma a recriar a situação “física” real dessas cenas; mas antes, uma combinação de códigos herdados de outras linguagens visuais, como a gravura e a pintura, em conjunção a uma abordagem de sintaxe visual que se apoia em conhecimentos da fisiologia e dos mecanismos perceptuais do aparelho visual humano, o olho como extensão do cérebro.