Eça em cena por Marcella Lopes Guimarães Professora de Literatura Portuguesa da PUC/PR A edição de Os Maias, preparada pela Editora Juruá, é mais um convite à participação do leitor brasileiro nas comemorações dos cem anos da obra do português Eça de Queiroz (1845-1900), iniciadas no ano 2000. Bastante visitado pela mídia em nossas terras, não se pode esquecer que a mesma Rede Globo que transmite agora uma adaptação da obra citada, já o fez com o Primo Basílio em 1986, e que o cineasta Helvécio Ratton baseou-se em um conto do autor para o seu “Amor & Cia” (1998). É Eça de Queiroz um autor da ficção realista portuguesa, que se posiciona como um observador crítico de sua sociedade. Em Eça, a crítica ainda se combina em grande parte das vezes à ironia. Tanto quanto Balzac, Eça ambicionou construir através de sua obra um amplo painel da sua sociedade. Em Os Maias, para alguns a obra-prima de Eça, abre-se um universo intermediário entre a fidalguia e a alta burguesia – a aristocracia – e toda uma multiplicidade de personagens. Dentre eles, Afonso da Maia representa o modelo perfeito do avô cheio de atenção e carinho que assume a criação do neto segundo valores liberais que não teve oportunidade de transmitir ao filho. O neto, Carlos da Maia, é o protagonista que, embora educado para muito, carece de força moral para ser mais. É o seu dado de consciência no controvertido envolvimento amoroso que tolda a tragédia entrevista nas páginas deste relato de costumes que o leitor da Juruá tem diante de seus olhos agora.