Soneto só se for metassonético. Assim escreve o autor deste livro, que desconstrói o tom grandiloquente do soneto, ao declarar: “pois em soneto falo e me aniquilo”. Apesar dessa verdade inquestionável, ou talvez por ela mesma, o autor dos sonetos declara, à maneira pessoana: “só sinto isto que finjo”. E não nos esqueçamos: o fingimento
pessoano não é aquele de uma dor que não se sente, mas de uma dor que “deveras sente”. Esta, talvez, a dor maior destes sonetos: “o mundo que antes era terminou”.
Mas há ainda o mundo metassonético, ele nos ensina. Que mundo é esse? Talvez aquele em que seja possível exorcizar a dor da forma rígida de um soneto, “quebrando as normas dessas velhas práticas”. Até que possamos chegar às marcas d’água e nelas encontrar uma pista para exorcizar o fim do mundo: “o desejo de viver”.
Se “imundo é o mundo” que nos rejeita, o que nos resta, senão esse desejo? Talvez ele se reduza à “não ideia do seio de ninguém” -- e isso basta para que mais um nada se escreva. Ao ser escrito, ele aí está: mais um nada no (i)mundo de indimensionada dimensão. Para esse mundo partido, “metade de nada”, o poeta, aos cento e vinte anos, ainda é capaz de acenar, com sua vida em excesso: “a ti partido só me resta amar-te”.
Lucia Castello Branco