“Diante da mesa ficamos sem assunto. / Tudo quente e não temos conversa. / É alarmante. / A cidade ferve.” não uma cidade qualquer ferve, mas o centro histórico de uma das cidades mais antigas e representativas deste vasto Brasil. “mangue” é como chamam o Pelourinho em Salvador. ali é casa do brega, ou brega antigo, e ambientação deste novo livro de moisés alves [assim mesmo, em caixa baixa, como prefere o autor], que nos apresenta uma movimentação para caminhos um pouco diferentes do que conhecíamos antes. ou seja, encontramos aqui uma transição de sua poética. “mangue” abarca o Pelourinho e sua particularidade dos finais da década de 1960 até os dias de hoje. “mangue” sangra e singra o Brasil da saída de África, os recém-escravizados em sacrifício pelo grande milagre mercantil, e a situação de sua marginalização pelos séculos, reverberando tudo isso no tempo presente. “isso que acontece pertence / aos povos dessa terra / nada pessoal / a glória é essa”. afinal, ‘a vida é isso’, uma construção cotidiana de perdas e ganhos (e ‘nem sempre se ganha uma perda’). o livro de moisés alves é o volume 30 da ‘coleção cabeça de poeta’, da martelo casa editorial, ‘série contemporanea’, que publica a recente poesia brasileira, e traz orelha de Luiz Fernando Medeiros, apresentação de Alberto Pucheu e fotografia de capa de Miguel Rio Branco.