O Movimento Modernista de 22, apesar de sua importância para o processo cultural brasileiro, não conseguiu, desde logo, penetração nas camadas mais populares, nem influenciar o ensino das artes, acadêmico por tradição. Em contrapartida, uma década depois, um grupo de modestos pintores-decoradores, sem proclamações estéticas retumbantes, logrou, prontamente, exercer um importante papel na revolução em curso das artes no país. Eram artistas proletários , como os chamava Mário de Andrade, filho de imigrante pobres, de origem italiana na maioria. Dedicavam-se à pintura com paixão e lutavam por ela como profissionais: abrindo uma brecha para os artistas plásticos modernos na Sociedade de Belas-Artes e um espaço nos Salões Oficiais (único meio de acesso ao público numa época carente em museus e galerias), chegaram a criar o Sindicato dos Artistas Plásticos, com a transformação daquela Sociedade. Este Sindicato foi a primeira entidade oficial a apoiar a arte moderna, portanto precursor legítimo de todos os Salões de Arte Moderna posteriores. Dos artistas proletários , mais tarde conhecidos como Grupo Santa Helena somente Volpi teve a sua obra de há muito plenamente consagrada. Mário Zanini, seu amigo mais jovem, não conheceu o sucesso, vindo a falecer em extrema pobreza em 1971. Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial e na década seguinte, Zanini desenvolveu uma obra importante, apoiada pela crítica, envolvendo-se posteriormente nas tensões geradas pelo conflito figuração-abstração, desencadeado pelas Bienais com a sua avalanche de novas propostas. Analisando as implicações destas tensões sobre o meio, este livro examina o clima sócio-político e artístico daquele momento e o drama íntimo do artista que, entre estímulos e críticas, viveu este período caótico e de crise profunda, cujos efeitos se fazem sentir até os nossos dias.