Marxismo e a opressão às mulheres: rumo a uma teoria unitária, da socióloga e historiadora marxista estadunidense Lise Vogel, tem agora sua primeira edição brasileira pela Expressão Popular. Saindo quase 40 anos após sua publicação original (1983), é necessário reconhecer que os anos que separam estas edições comportaram transformações muito significativas em relação ao capital e ao movimento feminista. No entanto, essas mudanças apenas reforçam muitas das argumentações de base da obra, pois ao elaborar uma explicação teórica única e integrada da opressão às mulheres ao modo de produção capitalista, a autora articula a problemática da reprodução social – trabalho doméstico, alicerce e dinâmicas da família – em sua relação estrutural com a reprodução do capital, temática muito atual do feminismo. Ancorada no estudo de O capital, de Karl Marx, mas remetendo também a outras obras de Marx, Engels e Lenin por um lado, e de Zetkin, Eleanor Marx, Mitchell, Firestone dentre mais tantas feministas por outro, Vogel promove diálogos e aproximações, desmonta falsas questões e coloca novas, nos ajudando a navegar com mais tranquilidade e precisão nos caminhos por vezes turbulentos do encontro entre feminismo e marxismo/socialismo. Nas palavras de Susan Ferguson e David McNally, que assinam a introdução do livro, trata-se da obra “mais robusta e fundamentada [sobre reprodução social] baseada na arquitetura conceitual d’O capital de Marx”, estabelecendo um terreno “sociomaterial firme para a compreensão da opressão das mulheres no capitalismo”. A todos que reconhecem a pertinência e a urgência de estabelecermos um patamar mais aprofundado de conexão entre feminismo e socialismo/marxismo – incluindo os homens, nunca é demais acrescentar –, o livro de Vogel é incontornável. Vem em excelente momento para qualificar as lutas concretas do presente.